UM TEMPO QUE SÓ EU SEI VIVER
Teve um dia e depois tiveram muitos. E depois teve você. Teve uma noite muito longa e teve seu olhar de me perguntando qual o motivo dessa demora pra gente se encontrar assim limpo do mundo.
Estou acordado e atordoado e tivemos um tempo assim e tua mão me ofereceu maracujá à boca e ao coração e eu deleitei dos teus beijos e corpo
Era aurora enquanto eu contemplava nossos corpos deitados e você mesmo sonhando a pensar em como resolver o mundo. Era aurora a força anunciada desse amor. Tudo claro, tudo começado e nós entrando como se esse carrossel vivaldino estivesse lento e com um destino determinado.
Sempre, foi aurora, eu e você, e agora com ela, o carrossel de vaidades alterosas continua o seu caminho rápido e sempre inacabado; então você, e a nossa aurora de novo me desperta e me vejo seu companheiro, limpo, meio gordo, meio barbudo, ao teu lado.
Então acordo assustado com o carrossel destrambelhado e estamos separados por uma cama descompensada que não faz jus ao movimento da atenção unívoca dos nossos amores de agora.
Durmo e meu sonho é o meu amor e ela. Durmo e o meu sonho é elas e você.
Olhos abertos pensamento abstrato, tato intacto não corpo meu que não queira o teu que me possua de forma irrestrita e inexata
Olhos fechados. Coração aberto. Tua mão toca meu peito direito me procura. Te aceito. Te vejo, plácida, inconteste e desajeitada, como é o meu, o nosso desejo, sem valores, julgadores, e nossos três amores correndo e o carrossel sendo ele, desumano, indecoroso, infestado, afável, sinuoso, enfestado, silencioso e cheio de sortes, enquanto estamos juntos criando vida apartada do mundo.
Me deito enfim. O amor é a única saída possível. Me compreendo (até que enfim!), o amor é a entrada de todo o porvir.
Me ausento de mim e o caminho lento, límpido e altivo chega ao seu passo final curvo, crivado de dúvidas e certezas vividas.
Eu vejo você me estendendo a mão e tudo continua da sua maneira, sempre sábia e carinhosa.